outubro 30, 2006

2 - (IVG) Ouvir a Ciência II


Feto abortado às 11 semanas.

É recorrente ouvir-se o “argumento” de que o aborto age sobre uma massa biológica informe e sem natureza humana, uma “coisa que mal se vê”, logo, que não existe. É curioso como a técnica e a ciência servem de solução e revolução para tanta coisa, mas para assumir uma realidade tão simples, embora inconveniente…já nem tanto. Actualmente, a microscopia permite-nos compreender que o que “mal se vê” também existe, e o feto, por milimétrico que seja, assume forma humana desde cedo. Ora aí está um facto que uma simples espreitadela ao microscópio poderá confirmar.

Quem tem medo de espreitar? Pois é o que aqui pretendo fazer hoje.

Mas desta vez não vamos ver imagens bonitas, in utero, mas sim a realidade do aborto. Não é difícil ser-se homem, tolerar ou mesmo incitar a mulher a fazer um aborto e ficar numa qualquer sala de espera, aguardando o fim do processo. Para a mulher, caso se submeta por vontade própria e tudo corra bem, ficarão eventualmente as mazelas psicológicas de um acto que, no fundo, corrompe a sua natureza enquanto mulher e ser-humano (mazelas que o sentimento de “liberdade” reavida acaba por atenuar). A verdade é que, quer um, quer outro, nunca chegam a ter a noção do que fizeram, das consequências da sua opção.

Tiram “aquilo” como se tirassem um quisto, sem nunca verem o que era “aquilo” afinal.

Pois, a intenção, hoje (e depois de num outro post ter deixado a descrição do feto em cada momento da gestação até às 16 semanas) é colocarmo-nos ao lado do médico que procede à operação e assumir a sua perspectiva. Ver o que o médico vê, e que é sempre o único a ver.

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Como se procede a um aborto?

O aborto provocado tem como objectivo a destruição da criança em desenvolvimento no seio materno ou a sua expulsão prematura para que morra. Para conseguir este resultado costumam usar-se vários métodos que noutras circunstâncias se empregam em ginecologia ou obstetrícia, e que se escolhem atendendo aos meios de que se disponha e à idade do feto que tem de se suprir. O métodos mais utilizados (no aborto legal e em "estabelecimentos de saúde autorizados"), são: aspiração, raspagem, histerotomia (mini-cesariana), indução de contracções e a injecção intra-amniótica.


Como se pratica um aborto por aspiração?

Primeiro dilata-se o colo uterino com um instrumento adequado para esta função, para que através dele possa entrar um tubo ligado a um potente aspirador. A força da sua sucção arrasta o embrião e o resto do conteúdo uterino, todo desfeito em pequenos pedaços. Uma vez terminada a operação costuma-se fazer uma raspagem para se ter a certeza de que o útero ficou vazio. Este método costuma ser usado quando a gravidez tem menos de dez ou doze semanas.


Eis um diagrama ilustrando como se processa este método.


Fetos abortados às 10 semanas, por aspiração.


Em que consiste o método da raspagem?

A raspagem ou legração, também chamada “curetage”, é o método que se usa mais frequentemente. Começa-se por dilatar convenientemente o colo do útero, que só se pode fazer por anestesia. Depois introduz-se no útero uma espécie de lâmina curva cortante, chamada legra, que desfaz ao máximo a placenta e destroça o feto, atingindo-o de alto a baixo através de toda a cavidade do útero. Os bocados assim obtidos extraem-se com a mesma legra. Este método costuma praticar-se sobretudo nos três ou quatro primeiros meses de vida do feto. Se a gravidez superou já as doze semanas, as dificuldades aumentam e a trituração do corpo tem de ser especialmente completa para que tudo seja expulso, face ao perigo de partes do feto ficarem dentro da mãe.

(ambos estes métodos só se usam durante os primeiros meses de gravidez porque o feto cresce e desenvolve-se muito rapidamente, e passado este tempo a sua trituração ou expulsão por via vaginal torna-se muito difícil para quem realiza o aborto e muito perigosa para a mãe.)


Eis um diagrama ilustrando como se processa este método, neste caso, já em adiantado estado de gravidez.


Em que consiste a “mini-cesariana”?

A cesariana é uma intervenção cirúrgica que se realiza no fim da gravidez e consiste na extracção da criança através de uma incisão no abdómen da mãe, quando por qualquer motivo não for possível o nascimento pela via normal. Método que tem já salvo muitas vidas, quer de mulheres quer das crianças. Mas se se praticar uma cesariana poucas semanas após a gravidez, chama-se “mini-cesariana”, e consiste em praticar uma incisão no útero através do abdómen materno, afim de se extrair o feto e a placenta. Este método costuma usar-se a partir da 15º ou 16º semana de gravidez. Habitualmente extraem-se crianças vivas, que logo a seguir acabam por morrer por não terem viabilidade. Porém, por vezes, com este método obtêm-se crianças vivas e viáveis, cuja morte é provocada, geralmente por asfixia.


Resultado de um aborto praticado com este método, num feto com 15 semanas (lembro que o governo se prepara para extender o prazo até às 16 semanas, após aprovação das 10 em referendo).


Em que consiste o aborto por indução de contracções?

Consiste em causar a expulsão do feto e da placenta mediante a administração à mãe, por diversos modos, de substâncias que produzem contracções semelhantes às de um parto (prostaglandinas, oxitocinas), as quais provocam, por sua vez, a dilatação do colo uterino e a bolsa em que está a criança desprende-se das paredes do útero. A criança pode nascer morta (asfixiada no interior da mãe) ou viva. Por vezes, antes de se administrar os oxitócicos, usam-se umas hastes ou dilatadores hidrófilos que, colocados no colo uterino, engrossam progressivamente e o dilatam.


Em que consiste o método da injecção intra-amniótica?

Injecta-se no líquido amniótico, em que vive o feto, através do abdómen da mãe, uma solução salina hipertónica ou uma solução de ureia. Estas soluções irritantes hiperosmóticas provocam contracções parecidas às do parto. Com um intervalo de um ou dois dias após a injecção, a criança e a placenta costumam ser expulsas do útero. Num certo número de casos tem que se realizar depois uma raspagem para se ter a certeza da expulsão da placenta. Este método utiliza-se às vezes para evacuar um feto morto espontaneamente e mantido no útero, e só pode ser usado numa gravidez em estado muito avançado. Se se tratar de provocar um aborto, ou seja, se a criança está viva dentro da sua mãe e deve ser expulsa, também a gravidez já tem de estar adiantada, com mais de 4 meses. A solução irritante introduzida previamente costuma envenenar o feto, causando-lhe além do mais, fortes queimaduras. Por vezes, em vez de soluções cáusticas, introduzem-se no líquido amniótico prostaglandinas, porém, os que provocam abortos preferem as outras soluções, porque se obtêm fetos mortos com mais segurança, pois é “desagradável” que a criança nasça viva e tenha que se matar ou deixar morrer à vista de todos.


Eis um feto abortado por este método em adiantado estado de formação.


Aqui, o médico Byron Calhoun (ex-executante de abortos) examina dois fetos abortados, descrevendo-nos a sua causa de morte através dos sintomas apresentados.

Para mais informações e descrições médicas sobre os diferentes métodos, ver aqui.
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Há, entre os defensores do SIM, muitos que acusam de “imoral” a divulgação de fotos e filmes de abortos, acusando o outro lado de “manipulação” através do choque. De facto a realidade é chocante… e é por isso que nos movemos.
É preciso compreender que as únicas pessoas que, em todo este processo, têm noção do que é um aborto, são os médicos, enfermeiras ou abortadeiras, que hoje em dia recebem avultadas somas para fazer o serviço (ou seja, assumem uma aura de libertadores e lutadores pelo “direito” à decisão, mas depois cobram quanto puderem). E são os únicos a saber porque são os únicos a ver. Talvez lhes custe ver da primeira, da segunda vez, mas, daí em diante, os cifrões já lhes facilitam as vistas e é sempre a aviar.

Hoje, na eminência de uma vitória do SIM, é importante que quem quiser assumir esse voto, saiba na plenitude o que esse voto significa, para que então o assuma na totalidade. A sociedade tem de facto o direito de optar, mas que jamais o faça equivocada ou ignorante…

Eis aqui um aborto praticado às 10/11 semanas, como se pretende aprovar em Portugal. O método aqui aplicado é a raspagem, como descrito acima (veja quem tiver convicção no SIM, os outros poupem-se a isto):




Aqui estão outros vídeos de outros abortos e aqui, um pequeno documentário sobre o tema (com imagens não menos tristes).

outubro 19, 2006

1 - (IVG) Ouvir a Ciência.

O que somos às 10, 12 e 16 semanas de VIDA?
(Hoje, vamos ver as imagens bonitas, no próximo post as feias)


Feto abortado às 6 semanas.


Em fins de Setembro de 2005, a National Geographic mostrava-nos o documentário In the Womb” (A Vida no Ventre). Utilizando a ecografia a 4 dimensões (tecnologia recém aplicada na medicina, que, para o documentário, foi tratada com cor) os médicos captam imagens de toda a gestação do novo Ser. Ao longo de 9 meses foram registados momentos de todos os pormenores desejados, e fizeram-se experiências várias, cujos resultados foram já apreendidos pela medicina, sob a forma de conhecimento inédito. Imagens do feto sugando no dedo, pestanejando, bocejando e esboçando sorrisos, bem como movimentos em tempo real. Inclui ainda imagens de uma cirurgia, em que o médico insere um “fetoscópio” dentro da mãe e até ao feto, afim de corrigir um defeito congénito.


Equipamento 4D (Philips Medical Systems' iU22)

A revista “Sábado” nº77 (de 21 de Outubro de 2005) fez capa com este tema, tomando como base o referido documentário para descrever, abreviadamente, as várias fases da gestação. É daí e daqui e daqui, que retirarei as próximas informações.
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1º Mês:

“Cerca de 22 dias depois da fecundação, as células cardíacas diferenciam-se. Ao fim do primeiro mês, já existe um coração minúsculo a bater e o sangue circula no embrião. Começa a formar-se o sistema nervoso e os restantes órgãos do corpo, nomeadamente o fígado, os pulmões, o pâncreas, a laringe e os ouvidos. Surgem as saliências que darão origem aos membros superiores e inferiores. Às 4 semanas, o embrião mede 4 a 6 milímetros e não chega a pesar uma grama.”


Feto com 5 semanas.

2º Mês:

“Antes pensava-se que os principais órgãos do bebé só estavam formados a partir do segundo trimestre da gestação, hoje sabe-se que os órgãos estão todos formados ao fim da oitava semana de gestação. Ao longo do 2º mês começam-se a formar os órgãos. Na 6ª semana de gravidez aparece o esqueleto e surgem os primeiros reflexos nervosos. O coração bate 150 vezes por minuto e os braços e as pernas tomam forma. No rosto começam a desenhar-se os olhos, as orelhas, o nariz e a boca. Na oitava semana, o embrião movimenta-se no líquido amniótico e já são visíveis os órgãos genitais, mas ainda não é possível distinguir com exactidão o sexo do futuro bebé. Ao fim do 2º mês, o saco vitelino desaparece (responsável pelo fornecimento inicial de nutrientes e pela produção de células sanguíneas) e a placenta passa a assumir o papel fundamental de regulação do fornecimento de nutrientes e oxigénio. Também desaparece a pequena cauda situada no prolongamento da espinha dorsal. Na 8ª semana de gestação, todos os órgãos estão bem definidos, por isso o embrião passa a chamar-se feto…mede 27 a 35 milímetros e tem aproximadamente 4 gramas de peso.”


Feto com 7 semanas.

3ºMês:

“Neste período (entrada no 3º mês) nascem as unhas e formam-se os dentes. Observam-se também os primeiros movimentos musculares. O bater do minúsculo coração já pode ser facilmente detectado pelos médicos: bate entre 120 e 160 vezes por minuto. O feto começa a ensaiar os primeiros movimentos respiratórios, contraindo e relaxando o tórax. Às 11 semanas, já manifesta o reflexo de andar, como revelam as modernas imagens de ecografias a 4 dimensões: quando toca nas paredes do útero com os pés, o feto dá um impulso com as pernas, como se estivesse a saltar num trampolim (este tipo de reacção também se pode observar nos bebés recém-nascidos, até aprenderem a caminhar).
As modernas técnicas de imagem revelam que o feto começa também a mexer os lábios e a língua. Alguns estudos sugerem que é capaz de sentir o sabor do líquido amniótico. Às 11 semanas os rins já produzem urina e o estômago está activo, bem como os intestinos. O feto começa a treinar outro reflexo fundamental para sobreviver: chupa no dedo, gesto que indicia o impulso de mamar, essencial para assegurar a alimentação após o nascimento. A estrutura do pescoço já se identifica e o nariz toma a forma definitiva, demarcando os traços do rosto. As diferenças entre os órgãos genitais masculinos e femininos começam a ser mais pronunciadas, permitindo uma identificação mais clara do sexo do futuro bebé através de ecografias. A pele em torno dos olhos cresce e acaba por cobri-los dando origem às pálpebras. O sentido da audição desenvolve-se e o feto reage a sons fortes e aos estímulos do tacto, em especial os que são provenientes da mãe – o som é um dos meios para estabelecer os primeiros laços afectivos. No fim do 3º mês de gestação, o feto mede cerca de 7.5 cm e pesa 15 gramas.”



Feto com 12 semanas.

4º Mês:

“Nesta altura (entrada no 4º mês), o corpo da mãe revela sinais mais visíveis de gravidez, principalmente com o aumento do tamanho do ventre. A grávida é capaz de sentir o filho a mexer-se dentro da barriga. O feto reage aos sons e aos movimentos bruscos. Nascem-lhe as pestanas, as impressões digitais começam a formar-se e os vasos sanguíneos são visíveis através da pele fina. Começa a crescer uma fina penugem, que depois dará lugar ao cabelo. As pernas crescem e ficam mais compridas que os braços, mas as mãos tornam-se sensíveis e passam a agarrar e a explorar o ambiente que as rodeia, do cordão umbilical aos pés ou nariz. No 4º mês de gestação, o novo ser humano já tem muitos órgãos a funcionar: o fígado começa a produzir a bílis, por exemplo. Nos últimos anos descobriu-se que as células olfactivas já estão activas nesta fase do desenvolvimento. Mais: as análises revelam que os aromas intensos dos alimentos da dieta da mãe passam para o líquido amniótico. “Tudo indica que o paladar e o olfacto surgem mais cedo do que se pensava”, diz Jorge Branco, obstetra da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa. No caso dos fetos de sexo feminino, os ovários já têm folículos com as células precursoras dos óvulos. Às 16 semanas, mede cerca de 16 centímetros e pesa 110 gramas.”


Feto com 16 semanas.


*mais imagens destas diferentes etapas (e com mais pormenor) aqui.
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Apesar da proposta de referendo se centrar nas 10 semanas de gravidez, decidi descrever a gestação até às 16. Ou seja, dos 2 meses e meio até aos 4 meses. Isto porquê?

O governo PS, apesar de colocar as 10 semanas em referendo (pretendendo dar um tom “equilibrado, razoável e sensato”, como diz Sócrates) tem intenções algo diferentes:

A 22 de Março de 2005 o PS aprovava na Assembleia um diploma a entregar ao Presidente da República (que então recusou a realização do referendo) onde se propunha novo referendo à IVG, também até às 10 semanas e tendo como única condição a consulta prévia de um Centro de Acolhimento Familiar. Contudo, o dito diploma continha outras cláusulas, prevendo-se um “alargamento do prazo para a realização do aborto das 12 para as 16 semanas em caso de perigo para a saúde física ou psíquica da mulher”. Também até às 16 semanas de gravidez, o projecto previa que deixasse de ser punível o aborto que ponha em perigo a saúde física ou psíquica da mulher "por razões de natureza económica ou social", que actualmente não são referidas na legislação. in: TSF

Ou seja, depois de conseguir que a população aprovasse a devassa da vida intra-uterina, enquanto princípio, dava-se um salto e esticava-se a legitimidade por mais umas “insignificantes” 6 semanas! Porque, convenhamos, alegar a saúde psíquica ou a natureza económico-social junto de um médico amigo e que até seja a favor do aborto, é tão só estender o ABORTO LIVRE ATÉ ÀS 16 SEMANAS, ou seja, 4 meses. Ora, tendo em conta que a tecnologia já permite a sobrevivência de prematuros com 7 meses de gestação, trata-se aqui de eliminar um ser-humano com mais de metade da sua gestação intra-uterina mínima cumprida. Isto é homicídio.

Estamos em risco de ser enganados assim, por portas e travessas. É por isso, também, que se torna essencial saber o que é a Vida às 16 semanas de idade, bem como ter conhecimento de TODAS as intenções do governo.
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Todos sabemos que, para desvalorizar o acto abortivo, há quem argumente que o alvo da operação não passa de “uma incipiente combinação de células”, “uma forma de vida que ainda não se considera humana”, ou, em tom mais corrente, “uma coisa tão pequenina que mal se vê”, “uma posta de sangue”, entre outras.

Se vivemos na era da Ciência, como se diz, onde a lógica impera e os factos ditam a Lei, é bom que se comece por chamar as coisas pelos nomes correctos. À luz da ciência, e como se acabou de comprovar, o feto é um ser vivo, completamente autónomo da progenitora e humano em toda a sua dimensão, ainda que reduzida e vulnerável.

Desta forma, é preciso compreender, antes de mais, que o aborto é uma forma de eliminar VIDA HUMANA AUTÓNOMA:

- É “vida”, porque reproduz sinais vitais e porque o faz autonomamente da mãe (apesar de depender do corpo desta). Isto para além de possui sistema nervoso activo e evidenciar actividade cerebral desde cedo.

- É “humano”, porque para além de comportar esse código genético específico, evidencia sinais exteriores humanos desde os primeiros dias.

- É “autónomo”, porque não faz parte do corpo da mãe nem possui o mesmo código genético sequer. Para além de funcionar autonomamente dela, possui uma identidade genética única, enquanto ser-humano.
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Compreendendo isto (e antes de se levar a cabo qualquer referendo), há que assumir, com a confirmação da Ciência, que esta discussão em torno da IVG, trata essencialmente de avaliar a violabilidade da vida humana intra-uterina.

É legítimo dispor sobre essa Vida? Esta é a questão primordial.

outubro 18, 2006

O Sonho Abortado...

"Talvez seja criminoso, também, deitar crianças ao mundo, que nunca foram desejadas e irão viver na miséria e infelizes para o resto da vida!"

Este é, de facto, o argumento recorrente de quem defende a despenalização do aborto, procurando sentimentalizar a existência de alguém, cuja vida estão prontos abreviar com uma simples e "inocente" cruzinha.

Vamos responder assim:



A imagem corresponde a um feto de 11 semanas de idade (sendo que o BE, PCP,JS e outras associações defendem o aborto livre até às 12 semanas.



Peço que leiam pacientemente este testemunho:

"Chamo-me Ana...tenho 38 anos. Hum...nasci numa família sem grandes recursos, a minha mãe era dona de casa (alguém tinha de ser, com 4 crianças para cuidar!)e o meu pai operário fabril. Eu fui a última a nascer, um imprevisto :) Ninguém contava comigo e as coisas já eram suficientemente difíceis então.

Tive de trabalhar cedo, a fazer uns biscates ao fim de semana para poder ter as minhas coisinhas, contudo, o meu pai nunca me deixou trabalhar durante a semana, dizia que enquanto pudesse trabalhar, haveria de deixar os filhos estudarem até quererem. Por isso, estudei, enquanto ía trabalhando sempre que possível.

Desde pequenina que sonhava ser médica, adorava quando ia a uma consulta e fartava-me de fazer perguntas aos médicos. Mas não me foi possível, por diversas razões. Porque é preciso estudar muito e ter notas excelentes e confesso que fui um pouco preguiçosa...Porque também não era fácil ter dinheiro para investir em livros e outras coisas naquela altura. Porque não quis abdicar de trabalhar para ter o meu lazer e isso custou horas de estudo. Porque também não tive uma família que me acompanhasse e soubesse aconselhar o suficiente...Assim, ainda cheguei a chumbar...

Contudo, aos 18 anos tive um namorado que, embora não o tivesse sido por muito tempo, me ia lembrando dessa minha ambição, desse meu sonho já posto de parte. Ele sabia o quanto gostava de saúde e de poder fazer algo mais pelas pessoas. O meu pai sempre foi diabético, a minha mãe com problemas de coluna...A saúde interessava-me pois.

Entretanto e após 2 anos ele deixou-me, preferiu uma amiga qualquer e o namoro acabou. Mas algo de bom ficou. Fiquei com a sensação que tinha de fazer algo só por mim e para mim, que queria ser mais, ir mais além. Foi então que disse aos meus pais que tinha de ser médica. Eles queriam era que eu ultrapassasse o desgosto amoroso e deram-me todo o apoio, e esse apoio foi providencial.

Depois dos meus irmãos estarem já todos casados, os meus pais tinham já mais disponibilidade para mim e então tive a coragem e a vontade de me agarrar aos livros e consegui a média suficiente para entrar em Enfermagem :)

Era o orgulho da família, a "Dra. Enfermeira" como me chamavam.

Passei tardes e noites em bibliotecas a estudar e, sem perder um ano fui-me formando.
No curso conheci o João, também hoje enfermeiro e com quem estou casada.

O meu pai já faleceu mas ainda conheceu o Tiago e o Diogo, meus filhos. O Diogo, de 6 anos, sofre de surdez moderada, andamos a ver se recupera com tratamentos, é tão meiguinho para nós...! O Tiago, de 12 anos, é um campeão de judo lá na escola e diz que quer ser enfermeiro, pasme-se!!!

Eu dou-me bem com o meu marido, juntos somos uma equipa e ultrapassamos tudo, mesmo em alturas difíceis.

A minha mãe ainda está viva e de boa saúde, cuidamos bem dela e tem muito orgulho em mim. Bem viu a força que tive de ter para conseguir alcançar os meus sonhos.

Mas devo-lhe o facto de me ter dado a vida, de se esforçar um pouco mais, de ter tido de abdicar de certos confortos. Hoje, tem 4 filhos relativamente bem sucedidos, que a adoram e que acima de tudo têm vida e a oportunidade de ser, de escolher, de agir, porque ela foi mãe.

Eu, sou feliz, porque conquistei uma carreira, uma família, um lugar no mundo, mas acima de tudo, porque tenho uma mão aberta para aqueles que me chamam, e um braço firme onde se apoia quem de mim precisa
:)"


Esta é uma história abortada, nunca se passou...imaginei-a... E de uma "Ana", dos seus filhos Tiago e Diogo, ou de uma enfermeira de sucesso, apenas resta a imagem que anexei no início, o braço firme que alguém teria para dar a alguém e que nunca pôde SER, porque alguém achou que ela não ia ser feliz, ou ia atrapalhar a felicidade de alguém.

Deixo esta reflexão para que não seja à custa dos devaneios idealísticos de partidos políticos, ou das ideias facilitistas e desresponsabilizadoras de associações e grupescos, que este nosso mundo perca a miraculosa oportunidade de SER, de CRESCER, de SER FELIZ... ou até de SER INFELIZ, mas também com a oportunidade de LUTAR E ULTRAPASSAR os desafios.

Que ninguém nunca aceite o argumento de que "se é para ser infeliz mais vale não vir ao mundo",porque da força e do destino de cada um só a ele próprio e a Deus compete. Não sejamos nós os cobardes pois.

Mas que a "Ana" tinha um braço...Lá isso tinha...

outubro 17, 2006

Aí vem a mentira...



Primeiro não era para liberalizar, era para "equilibrar as convicções pessoais com a liberdade" e não mandar as mulheres para a prisão...

Agora, parece que a despenalização até vai "reduzir o número de abortos"...

Lógico! Desde o momento em que se abrem serviços para fazer abortos a custos de "taxa moderadora" e com a responsabilização do próprio Estado pelas condições da intervenção... só pode diminui o número de clientes interessados em usufruir! Não se está mesmo a ver...?!

VALE TUDO...!

outubro 15, 2006

Aqui há esperança...



Nem este tema merecia menos que um blog a ele inteiramente dedicado. O Jardim do Arraial, como blog pessoal que é, retrata outras ideias e preocupações que não apenas estas, daí a concentração de textos (que lá fui colocando) aqui neste espaço.
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"Estar de esperanças" não é, ao fim e ao cabo, mais que aguardar o nascimento saudável daquele que cremos ser capaz de fazer o Mundo melhor, aquele que tornará a nossa existência menos penosa, aquele que fará a diferença.

É nisso que de facto consiste a dita "esperança": Acreditar. Esperar que esse novo Ser renove a nossa obra e reabilite a nossa condição. Reconhecer a naturalidade do seu nascimento é, pois, uma necessidade.

Ora, o título deste blog temporário não é mais que a súmula de um imenso turbilhão de ideias e sentimentos, aqueles que envolvem esta causa e a presente luta que travamos:

O NÃO à liberalização do aborto (pois que não é de outra coisa que se trata hoje).

Aqui há, de facto, esperança... Esperança nos homens e nas mulheres, na sua lucidez, na sua solidariedade, na sua capacidade de dar de si. Aqui há esperança até nos políticos, nas associações, na Igreja, nas outras religiões... Aqui há esperança num Mundo que haverá de se aperceber, ainda a tempo, da pobreza que se auto-inflinge.

Esperança no Amor que vinga sob a forma de criança, e na criança que vinga sob a forma de irmão comum.

Aqui há Esperança... Aqui há, de facto, Esperança!