fevereiro 06, 2007

9 - (IVG) Ouvir os Casais II



Outra abordagem possível ao casal, poderá fazer-se em relação aos hábitos sexuais de cada indivíduo. Atenção que a análise que se segue não procura generalizações, nem pretende fazer juízos de valor às condutas de ninguém. Pretende, sim, identificar comportamentos que potenciam a chamada "gravidez não desejada", mas que, ainda assim, beneficiarão de uma eventual despenalização.

Vamos começar por dissociar “casal” de “acasalamento”, na medida em que nem todo o acasalamento procede de um casal. E o que é que se quer dizer com isto? Na actualidade, o sexo vem assumindo, cada vez mais, um lugar cimeiro nas relações interpessoais. Como se se trata-se de uma forma de comunicação, a par da palavra ou do gesto. O sexo transforma-se numa forma de expressão individual, individualista, na medida em que apenas visa tirar o maior partido possível do corpo, fazendo uso do corpo de outrem. Esta transformação dos costumes, a que alguns chamam de “libertação”, está patente nos novos hábitos sociais. O culto da beleza e da transformação física, em busca de um ideal estético momentâneo, vai a par de um egocentrismo vertiginoso, que rejubila e se alimenta do impacto provocado no outro. A sedução e o seu sucesso, marcam, hoje, muitas vezes, a diferença entre a frustração e o bem-estar pessoal. E esta mentalidade, que está longe de ser partilhada pela generalidade da população, concretiza-se perigosamente no seio de parte das novas gerações. É indesmentível que, actualmente e aliado ao fenómeno crescente do consumismo, o culto do corpo, da beleza, da imagem, da aparência, entre a camada jovem (que levo até aos 30 anos), vem suplantando em muito a primazia pela valorização intelectual, cultural e cívica. Ora, essa transformação nos padrões de valores, tem repercussões nos comportamentos e na evolução moral da sociedade como um todo.

O sexo, esta nova linguagem que surge, cada vez mais, com vista à descoberta de nós mesmos, por intermédio da posse esporádica de um outro qualquer, parece vir tornando-se numa espécie de direito… Um direito inalienável que nos assiste e se transforma progressivamente num dever que a sociedade tem para connosco.

Hoje em dia, esse direito dá pelo nome de “orgasmo”, chamemos-lhe o “direito ao prazer”. Por outro lado, esse dever, na sua forma mais radical, parece querer dar pelo nome de “aborto”.

Tenho plena noção do aspecto conservador que toma todo este raciocínio, especialmente à “luz” do conceito de “modernidade” vigente. No entanto, não tenho a mais pequena dúvida que isto se aplica a uma boa porção das sociedades emergentes. Ora, toda esta introdução pretende apenas vir ao encontro daqueles que, hoje, vêm defender o aborto como forma de libertação, como fórmula de total domínio sobre o corpo. Porque há quem defenda o aborto como último garante da liberdade sexual, e pretenda subjugar a medicina e a gravidez ao direito ao livre usufruto do corpo.

Completando o raciocínio, hoje, o “acasalamento” dá-se, muito frequentemente, por factores alheios ao respeito, cuidado e protecção mútuos (para evitar referir os conceitos “ultrapassados” de “amor” e “compromisso”). Podemos aqui incluir as relações extra-conjugais, ou os flirts combinados por internet, ou os chamados engates de uma noite por entre bares e discotecas, ou as relações mantidas na prostituição, etc. Ora, esse, é um dos grandes factores que, na actualidade, leva ao firme desejo da garantia de toda a liberdade e desresponsabilização possível face ao parceiro sexual. A ausência do sentido de compromisso, leva a esse conforto que hoje se encontra no desapego e na descartabilidade do outro.

Assim, facilmente se compreende o enorme obstáculo a essa “liberdade” que consiste a gravidez. Ela comporta uma obrigatoriedade, uma responsabilização a que muitos dariam o nome de “prisão” ou “desespero”.

Uma despenalização do aborto, surge assim como último paradigma dessa “liberdade”!

Uma despenalização do aborto LIVRE, até às 10 semanas, beneficiará muito especialmente este tipo de atitude perante a vida e perante o próximo.