outubro 18, 2006

O Sonho Abortado...

"Talvez seja criminoso, também, deitar crianças ao mundo, que nunca foram desejadas e irão viver na miséria e infelizes para o resto da vida!"

Este é, de facto, o argumento recorrente de quem defende a despenalização do aborto, procurando sentimentalizar a existência de alguém, cuja vida estão prontos abreviar com uma simples e "inocente" cruzinha.

Vamos responder assim:



A imagem corresponde a um feto de 11 semanas de idade (sendo que o BE, PCP,JS e outras associações defendem o aborto livre até às 12 semanas.



Peço que leiam pacientemente este testemunho:

"Chamo-me Ana...tenho 38 anos. Hum...nasci numa família sem grandes recursos, a minha mãe era dona de casa (alguém tinha de ser, com 4 crianças para cuidar!)e o meu pai operário fabril. Eu fui a última a nascer, um imprevisto :) Ninguém contava comigo e as coisas já eram suficientemente difíceis então.

Tive de trabalhar cedo, a fazer uns biscates ao fim de semana para poder ter as minhas coisinhas, contudo, o meu pai nunca me deixou trabalhar durante a semana, dizia que enquanto pudesse trabalhar, haveria de deixar os filhos estudarem até quererem. Por isso, estudei, enquanto ía trabalhando sempre que possível.

Desde pequenina que sonhava ser médica, adorava quando ia a uma consulta e fartava-me de fazer perguntas aos médicos. Mas não me foi possível, por diversas razões. Porque é preciso estudar muito e ter notas excelentes e confesso que fui um pouco preguiçosa...Porque também não era fácil ter dinheiro para investir em livros e outras coisas naquela altura. Porque não quis abdicar de trabalhar para ter o meu lazer e isso custou horas de estudo. Porque também não tive uma família que me acompanhasse e soubesse aconselhar o suficiente...Assim, ainda cheguei a chumbar...

Contudo, aos 18 anos tive um namorado que, embora não o tivesse sido por muito tempo, me ia lembrando dessa minha ambição, desse meu sonho já posto de parte. Ele sabia o quanto gostava de saúde e de poder fazer algo mais pelas pessoas. O meu pai sempre foi diabético, a minha mãe com problemas de coluna...A saúde interessava-me pois.

Entretanto e após 2 anos ele deixou-me, preferiu uma amiga qualquer e o namoro acabou. Mas algo de bom ficou. Fiquei com a sensação que tinha de fazer algo só por mim e para mim, que queria ser mais, ir mais além. Foi então que disse aos meus pais que tinha de ser médica. Eles queriam era que eu ultrapassasse o desgosto amoroso e deram-me todo o apoio, e esse apoio foi providencial.

Depois dos meus irmãos estarem já todos casados, os meus pais tinham já mais disponibilidade para mim e então tive a coragem e a vontade de me agarrar aos livros e consegui a média suficiente para entrar em Enfermagem :)

Era o orgulho da família, a "Dra. Enfermeira" como me chamavam.

Passei tardes e noites em bibliotecas a estudar e, sem perder um ano fui-me formando.
No curso conheci o João, também hoje enfermeiro e com quem estou casada.

O meu pai já faleceu mas ainda conheceu o Tiago e o Diogo, meus filhos. O Diogo, de 6 anos, sofre de surdez moderada, andamos a ver se recupera com tratamentos, é tão meiguinho para nós...! O Tiago, de 12 anos, é um campeão de judo lá na escola e diz que quer ser enfermeiro, pasme-se!!!

Eu dou-me bem com o meu marido, juntos somos uma equipa e ultrapassamos tudo, mesmo em alturas difíceis.

A minha mãe ainda está viva e de boa saúde, cuidamos bem dela e tem muito orgulho em mim. Bem viu a força que tive de ter para conseguir alcançar os meus sonhos.

Mas devo-lhe o facto de me ter dado a vida, de se esforçar um pouco mais, de ter tido de abdicar de certos confortos. Hoje, tem 4 filhos relativamente bem sucedidos, que a adoram e que acima de tudo têm vida e a oportunidade de ser, de escolher, de agir, porque ela foi mãe.

Eu, sou feliz, porque conquistei uma carreira, uma família, um lugar no mundo, mas acima de tudo, porque tenho uma mão aberta para aqueles que me chamam, e um braço firme onde se apoia quem de mim precisa
:)"


Esta é uma história abortada, nunca se passou...imaginei-a... E de uma "Ana", dos seus filhos Tiago e Diogo, ou de uma enfermeira de sucesso, apenas resta a imagem que anexei no início, o braço firme que alguém teria para dar a alguém e que nunca pôde SER, porque alguém achou que ela não ia ser feliz, ou ia atrapalhar a felicidade de alguém.

Deixo esta reflexão para que não seja à custa dos devaneios idealísticos de partidos políticos, ou das ideias facilitistas e desresponsabilizadoras de associações e grupescos, que este nosso mundo perca a miraculosa oportunidade de SER, de CRESCER, de SER FELIZ... ou até de SER INFELIZ, mas também com a oportunidade de LUTAR E ULTRAPASSAR os desafios.

Que ninguém nunca aceite o argumento de que "se é para ser infeliz mais vale não vir ao mundo",porque da força e do destino de cada um só a ele próprio e a Deus compete. Não sejamos nós os cobardes pois.

Mas que a "Ana" tinha um braço...Lá isso tinha...

1 Comments:

Blogger ' Claudjinha said...

Grande história, grande história...

sábado, 10 fevereiro, 2007  

Enviar um comentário

<< Home