Bebés e Crucifixos!

Aqui há umas semanas (só agora me apeteceu ligar a isto!), um grupesco conhecido por "República e Laicidade", procurou fundamentar-se na Lei Orgânica do Regime do Referendo para obrigar a que se retirem os crucifixos existentes nas salas de aula, onde se realizarão as votações para o próximo referendo sobre o aborto.
O excerto da lei (15/A-98, de 3 de Abril) é o seguinte:
"(...)é proibida a exibição de qualquer propaganda dentro das assembleias de voto... por propaganda entende-se também a exibição de símbolos...representativos de posições assumidas perante o referendo".
Uma vez que a Igreja portuguesa assume uma posição sobre a matéria a referendar, eles consideram que qualquer símbolo desta, como o crucifixo (o que não é exacto, tendo em conta que o crucifixo representa uma vasta corrente religiosa que não se limita à Igreja portuguesa ou sequer à Igreja Católica em geral), deverá ser removido do local de voto.
A CNE acedeu, mas, ainda assim, o presidente do grupesco veio a reclamar por não se preverem "coimas para os infractores".
Esta gente não tem mais nada que fazer, está visto. De vez em quando lá desenterram o seu ódio de estimação, para mostrar que tal aberração associativa tem uma razão de existir (para além de sugar recursos ao Estado).
Esquecem-se que um eleitor cristão já votará de acordo com a sua consciência religiosa. Esquecem-se também que um cidadão não cristão, jamais será influenciado por algo que nada lhe diz. Acima de tudo, esquecem-se que quem se dirige à mesa de voto, já sabe para o que vai e como vai. Mal seria se ainda se dispusesse a colocar a cruz à sorte, ou a ser influenciado por um dos símbolos mais costumeiros e banalizados da nossa sociedade, quando à boca da urna.
A Lei em causa, que está correcta, foi criada desta forma essencialmente para evitar o caciquismo partidário de última hora, o que nada tem a ver com este ataque a algo de que ninguém se lembraria, não fosse esta gente histérica.
Aliás, já alguns partidários da despenalização vieram dizer que não se revêem neste tipo de preocupação.
Tudo não passa, pois, de mais uma mostra do protagonismo fundamentalista anti-católico, que vem alimentando o viver destas tristes alminhas.
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Muito mais eficaz, numa procura de votos de última hora, seria a presença massiva de bebés, crianças e jovens junto de seus pais enquanto na fila para votar.
O que me diz a "República e Laicidade"?!? Vamos proibir bebés no local de voto e manda-los para junto dos crucifixos?!?
9 Comments:
"Não consigo deixar de me impressionar com a morte de uma criança, principalmente quando é provocada por um adulto.
E não consigo também, pela formação científica (biológica e médica) que tenho, deixar de olhar para o momento da fecundação de um óvulo por um espermatozóide como um momento ímpar, o do nascimento de uma criança.
Sei que quer o óvulo quer o espermatozóide são células maduras, condenadas à morte. E que no momento em que se unem há uma explosão biológica. Os vinte e três cromossomas de cada um deles unem-se e forma-se um novo núcleo, com quarenta e seis cromossomas, com um genoma completamente novo e que nunca se repetirá. Um genoma de um ser humano.
Sei que aquela célula - o zigoto, se começa a dividir activamente, em duas, quatro, oito, dezasseis… e rapidamente aquela "massa" de células " (uma criança) começa a produzir hormonas que vão interferir com o organismo da mãe. Fazem proliferar a camada interna do útero, preparando tudo para a sua nidação. E, uma vez um pouco diferenciadas em blastocito nidam no útero materno, começando a alimentar-se dele.
Sei que esse aglomerando de células se começa a diferenciar rapidamente, e que os órgãos vitais de um organismo humano vão surgindo a uma velocidade surpreendente, de tal modo que num embrião (uma criança) de dez semanas estão praticamente todos os órgãos formados, apesar de esse embrião medir uns escassos centímetros.
E que depois tudo se processará numa fase predominantemente de crescimento até que o feto (a criança) atinja as trinta e cinco semanas e nasça uma criança.
Não consigo deixar de olhar para um embrião de poucos dias e ver nele uma pessoa humana. E não é por Fé, por crença religiosa. Não preciso de fé para ver uma criança num embrião. Está lá, a evidência científica diz-mo. Tem de estar lá porque lá está tudo o que constitui uma pessoa humana.
A minha mente de médico recusa fechar os olhos à evidência. E, por isso, e porque para os médicos a vida humana é sagrada, recuso-me a aceitar o aborto provocado, porque para um médico a morte nunca é solução. Tem de haver outra saída. Há sempre outra saída. É preciso imaginação para a descobrir, coragem e inteligência para a pôr em prática. Mas a morte, nunca! O aborto provocado, nunca!"
Vítor Costa lima, médico
Pretendia iniciar o meu comentário com uma chalaça inconsequente, dizendo que ia pedir alguns bebés emprestados (visto que não tenho meus) para levar às urnas no dia do referendo. No entanto, ao ler o testemunho que aqui nos deixa o médico Vítor Costa Lima, sou forçada a adoptar um tom mais sério na minha exposição. Para lhe dizer que, mesmo não sendo médica, subscrevo na íntegra o que diz no seu comentário. Também para mim uma criança é criança assim que é concebida, independentemente da fé ou da ciência, da ética ou de outra coisa qualquer. É uma questão de senso comum, apenas e só. Em condições normais, uma mulher grávida encara o filho como filho desde o momento em que toma consciência do seu estado. Não espera uma, nem duas, nem 10 semanas para dizer ao marido e aos amigos e familiares que vai ter um filho. Assume, logo ali, que vai ser mãe. E uma mulher, como ser humano que é, só poderá ser mãe de outro ser humano, não vos parece?
Claríssimo!
De facto, esse grupesco «República e Laicidade» está a funcionar mal.
Os crucifixos deveriam ser retirados de todas as escolas - ponto final parágrafo.
Isso é discutível... Caro Duarte, já foi decretada a laicidade do Estado há muitos muitos anos. Este grupesco e outros têm feito, desde há algum tempo para cá, um duro combate aos poucos elementos religiosos que ainda restam na nossa cultura.
Se apesar de todo este esforço anti-cristão, há locais onde ainda persistem estes elementos, sem qualquer contestação de quem os vê e com eles convive diariamente, creio que é necessário tirar as devidas elações e, acima de tudo, garantir essa liberdade. Contrariar esta vontade, é tão só pactuar com um afã persecutório ao estilo da Iª República.
Seja como for, no que diz respeito a este episódio, não é o momento para se andarem a reerguer causas que nada têm a ver com o que está em discussão.
Não sou praticante de qualquer religião, e penso que dizer isto é importante para dizer o que vem depois: se para alguém que tem na religião um ponto relevante da sua vida, e com base nela toma grande parte das suas decisões, o facto de ter um crucifixo pendurado na parede da sala de aula da escola onde vai exercer o seu direito de voto poderá ser reconfortante, para alguém a quem o dito objecto pouco ou nada diz, essa presença não terá qualquer valor. Não me incomoda que, ao meu lado, alguém reze fervorosamente, desde que não me peça para o fazer também. Ter um crucifixo na parede é, para mim, e para muitos como eu, ter um quadro, que pode ou não ser do nosso agrado. Mas quando entramos em casa de alguém não lhe pedimos que troque os quadros de que não gostamos, ou que simplesmente os retire das paredes e as deixe nuas. Deixem lá os crucifixos! Não gostam, não olhem! Mas o que é mesmo ridículo é achar que alguém vai mudar de opinião já junto às mesas de voto, por ver um fio com pedrinhas pendurado numa parede...
«Mas quando entramos em casa de alguém não lhe pedimos que troque os quadros de que não gostamos, ou que simplesmente os retire das paredes e as deixe nuas.»
O problema é que neste caso a casa de alguém é uma escola pública que não deve intrometer-se nas opções religiosas de cada um.
Pois eu repito: não sou religiosa e a mim não me aquece nem me arrefece que pendurem crucifixos nas escolas ou onde quer que seja. Não é por olhar para eles que me convertem. Para mim são simples fios de contas, pedrinhas alinhadas numa determinada disposição. Nada mais do que isso. Há uns anos deram-me um. Não sei bem por que razão, mas acho que o pretexto era proteger o carro novo do azar. Com a mesma intenção deram-me uma fita vermelha acetinada, que, disseram, teria de andar dentro do veículo para afastar o mau olhado. Sete anos depois, ainda lá andam: a fita vermelha amarrada em torno da alavanca das velocidades, o crucifixo dentro do cinzeiro, junto com as moedas para o parquímetro. Não tenho tido azares de maior nestes anos. Mas não me converti ao Catolicismo. :)
Blaise Pascal, conhecido médico e filósofo do Séc. XVII dizia que se acreditarmos em Deus e depois viermos a descobrir que Ele não existe, nada perdemos em acreditar. Mas ao contrário, se não acreditarmos e depois viermos a descobrir que Ele existe deitámos tudo a perder. Blaise Pascal optou por acreditar, dizia que era mais seguro.
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