Factos e Verdade!
Sai este mês:
"Na sociedade actual, há um círculo de silêncio que limita qualquer possibilidade de compreensão do que significa um aborto provocado e de quais são as suas consequências dramáticas. A mensagem é clara: «Aborta, e ficas com o teu problema resolvido!».
Mas estas palavras trazem consigo um vazio irreversível. Como afirma uma mulher que abortou: «Agora penso no meu bebé a cada instante [...] já não está cá, e eu estou vazia, completamente vazia». «Tudo quanto vivo deve-se à vida dum ser humano, mas sou incapaz de aceitar que a minha comodidade e a minha liberdade tenham esse preço», confessa um rapaz que ajudou a namorada a abortar.
Este livro reúne uma série de testemunhos impressionantes de mulheres que abortaram e de outras pessoas que com elas pactuaram nessa decisão. São elas próprias quem nos dá conta da sua experiência e da forma como ela marcou as suas vidas. É a denúncia de uma realidade tremenda de que ninguém fala. Mas também um apelo à esperança.
Eis a voz das vítimas."
in: Principia Editora.
4 Comments:
O referido livro (que não li, nem tenho intenções de o fazer) chega a uma conclusão fundamental para se compreender a problemática em questão:
- nenhuma mulher aborta por prazer.
Pelo contrário, a mulher que recorre a essa prática é vítima de um profundo sofrimento.
Ora, ao contrário do que apregoam alguns, as mulheres sabem que não estamos perante um contraceptivo, mas perante uma interrupção de uma gravidez - com todas as consequências físicas e psicologicas, a que se juntam, muitas vezes, as sociais e morais derivadas de um dedo acusatório, intolerante, cruel e injusto.
Aqueles que defendem uma sexualidade reprimida, que têm medo dos seus corpos e, sobretudo, dos corpos dos outros, que vêem no sexo o pecado dos pecados, que se atromentam com a ideia de uma sexualidade esclarecida, livre e não mecânica, aqueles que não suportam ver no sexo um simples acto de prazer, um acto natural, insistem em acusar os outros, em reprimir, em defender as soluções mais obscurantistas, em apoiar e estimular o negócio do aborto clandestino, em perseguir e julgar judicialmente mulheres que tiveram de alegadamente recorrer a tal prática.
Continuo a considerar que os Movimentos pelo Não terão de me esclarecer a sua posição sobre a masturbação - tem ou não de ser criminalizada? Falamos de milhões de potenciais vidas humanas que são inviabilizadas, como vamos resolver este problema?
Caro Daniel:
Impressionante como consegue compreender a “conclusão fundamental” de um livro que não leu nem pretende ler!
Mas olhe que nunca ninguém disse que as mulheres “abortam por prazer”…! Da mesma maneira que ninguém faz um transplante de rim ou põe um pace-maker por prazer! Isso seria perfeitamente idiota de se dizer! Agora, que há mulheres que abortam por conveniência, há! Que há mulheres que abortam por pressões, ignorância ou medo, há!
Ora, esses abortos têm consequências, e, estas sim, são as descritas na obra. Tratam-se de testemunhos de mulheres que recorreram ao aborto porque pensaram ser a melhor solução, mas que depois se aperceberam que afinal não. E essa mensagem, que elas nos querem transmitir, não serve para procurar recriminar quem queira abortar, mas sim para chamar a atenção, apelando vivamente e a partir do seu próprio exemplo e exposição, que há consequências, que há traumas, que pode valer a pena reconsiderar uma decisão tão definitiva, que poderão haver formas de contornar as dificuldades da vida e aceitar essa criança…
Mas como raio sabe você que “as mulheres sabem que não estamos perante um contraceptivo”?!? Mas quem lhe disse que as mulheres “sabem que existem consequências físicas e psicológicas”?!? Sabia que a esmagadora maioria das que recorrem ao aborto clandestino, bem como as que o fazem livremente em Espanha são jovens entre os 16 e os 30 anos? Pense lá bem no que saberá uma jovenzinha de 18 anos sobre as eventuais consequências de um aborto? Pense lá bem se, num país com um dos maiores números de mães adolescentes da Europa, essa jovem deixará de praticar sexo com o namorado caso este não tenha preservativo… 1º pode até nem estar na altura mais propícia do ciclo. 2º Tem a pílula do dia seguinte (e se tiver de tomar 3 num mês, pois que seja). Ora, com a despenalização do aborto, sem perguntas, sem entraves, sem restrições… esse casal vai é em frente, que, em último caso, até pode abortar em segurança e ao preço da taxa moderadora sem que os paizinhos saibam.
É esta “mulher” que você quer responsabilizar e elevar a um patamar de responsabilidade que naturalmente não tem?! Você tem noção do estilo de vida e comportamento sexual que têm muitos dos nossos jovens em idade de liceu?
Hoje em dia as mulheres protegem-se, cuidam-se, têm medo de engravidar, pois, caso tal aconteça, terão de assumir a criança na sua vida e na dos pais, ou terão de enfrentar o risco penal e médico de um aborto ilegal e ainda ter de arranjar dinheiro para tal. Com a despenalização, todos estes factores inibidores de uma relação irresponsável e leviana (como tanto se vê entre os nossos jovens), desaparecerão, pura e simplesmente. Não vê isto?!
E deixe-se lá de pruridos morais anti-sexo, como se os defensores do NÃO fossem uns celibatários puritanistas. Ninguém defende uma “sexualidade reprimida”, defende-se sim, uma sexualidade responsável, honesta, consciente. Promove-se um relacionamento que parta de valores humanos como o Amor e não da simples busca pelo prazer, para experimentar este ou aquele, ou para tirar o máximo partido do corpo. Isso é a aberração do ser-se humano e a pronta negação de uma racionalidade que se deve sobrepor aos nossos instintos mais elementares.
Caro Daniel, se querem a despenalização do aborto livre para que se possa fornicar à vontade e sem “impedimentos técnicos” (como parece ser a ideia que fica do seu discurso sobre “sexualidade reprimida”), aí então que seja proibido sem dó nem piedade. Felizmente somos homens e não cães.
Essa sua tirada da masturbação então…é uma pérola autêntica! Como saberá, falamos de gâmetas, células com um padrão genético próprio, mas que possuem o mesmo tipo de vida de qualquer outra célula, não possuindo qualquer espécie de viabilidade, enquanto geradores de uma vida autónoma. Logo, não representam qualquer tipo de identidade biológica própria.
Trata-se de uma paródia que o SIM costuma fazer para ridicularizar argumentos válidos para os quais não tem resposta.
Em primeiro lugar, queria agradecer a atenção que teve em responder ao meu comentário e a disponibilidade demonstrada para este debate.
Como deve compreender a "conclusão fundamental" do livro que não li apreendi-a das suas palavras sobre o referido livro.
Se ninguém disse que as "mulheres abortam por prazer" andamos lá perto quando se ouve dizer que com a despenalização até às 10 semanas as mulheres passarão a recorrer sistematicamente a este método.
Que um aborto tem consequências e traumas estamos de acordo.
Já não estamos de acordo com o atestado de estupidez que passa às mulheres portuguesas - e em especial, às jovens entre os 16 e os 30 anos de idade.
Sobre o estilo de vida e os comportamentos sexuais dos jovens portuguese estou à vontade para falar dele, sou jovem (24 anos) e vivo a minha sexualidade esclarecida e livremente, sem preconceitos, sem medo de ir parar ao inferno, sem ter como objectivo a procriação.
Do seu texto depreende-se que o aborto clandestino para si é um mal menor pois evita que se façam muitos abortos (será isto?).
E ao colocar como exemplo o tal casal que poderá abortar em segurança, ao preço de uma taxa moderadora, sem que os paizinhos saibam, diz tudo.
Afinal, o problema é abortar em segurança, é pagar uma taxa moderadora (tb estou contra, o Serviço Nacional de Saúde deveria ser totalmente gratuito).
E quando afirma:«É esta “mulher” que você quer responsabilizar e elevar a um patamar de responsabilidade que naturalmente não tem?!», acaba por revelar todo o seu pensamento sobre esta matéria - incapacidade das mulheres autodeterminarem a sua vida.
Para terminar permita dizer que uma sexualidade livre e esclarecida implica escolhas, implica opções conscientes.
A minha sexualidade é determinada por mim e não faço juízos de valor sobre a racionalidade ou irracionalidade da sexualidade dos outros.
A condenação do prazer dos outros é algo profundamente triste e revelador de uma grande incapacidade de compreender que a sexualidade é parte da nossa humanidade, é inerente ao ser humano.
Eu tenho dúvidas que, na generalidade, uma mulher que aborte o volte a fazê-lo, logo, não creio que com a despenalização uma mulher “recorra sistematicamente” ao aborto. Agora, não tenho dúvidas que as mulheres, os casais, venham a recorrer com uma frequência muito superior a este método, na medida em que, gente que não o faria o chegará a fazer, porque está despenalizado, porque está facilmente disponível, porque deixa de ser socialmente recriminado, e sofrerão as consequências inerentes.
Compreenda uma coisa, quando se fala nas “mulheres que passarão a recorrer sistematicamente ao aborto”, não se está a falar nas mulheres no geral, como se quiséssemos englobar todas as portuguesas, ou até a “mulher” em geral. Faz-se referência, sim, A mulheres, muitas mulheres que estando grávidas quererão abortar, e até a homens, muitos homens que tendo engravidado uma mulher, quererão que ela aborte e estarão dispostos a pressioná-las para tal.
Ou seja (e quanto às “jovens entre os 16 e os 30 anos), ninguém está aqui a passar “um atestado de estupidez” a quem quer que seja, mas sim a identificar o principal grupo de risco, tendo em conta os actuais dados disponíveis sobre comportamento sexual.
Quer então dizer que você, jovem, e que vive uma “sexualidade esclarecida”, se acha um digno representante da generalidade da nossa juventude…?!?!? Olhe que está enganado! Conhece os números sobre maternidade na adolescência em Portugal? Ficará surpreendido. Reafirmo o que já tenho dito, ninguém quer impor a sexualidade como método restringido à procriação. O sexo é, antes de mais, uma expressão do amor entre duas pessoas, logo, algo a ser vivido em plenitude e liberdade pelo casal (e deixe-se de “infernos”, porque é a própria Igreja que difunde esta ideia do sexo).
Caro Daniel, o aborto clandestino é um problema que temos. Um problema legal, na medida em que não são capturados os “técnicos” que o levam a cabo. Um problema médico, na medida em que algumas mulheres apresentam complicações de saúde por pós-abortos não acompanhados. Um problema social, na medida em que há questões económicas, éticas, conjugais e culturais que vêem a gravidez como algo reversível e conduzem ao aborto. Ora são esses que devem ser avaliados, contrariados, ultrapassados por este Estado que quer dar o aborto como única solução para quem vê dificuldades e não alternativas.
Ou seja, o aborto clandestino é de facto um “mal-menor”, mas tendo em conta que existe toda uma série de carências ao nível da educação, formação, planeamento, apoio social e médico neste país. Com a despenalização, o Estado terá sempre uma boa resposta para as mães sem condições que procurem ajuda: “Se não tinha condições e já tinha 4 filhos, porque é que não fez um aborto?!?”.
Naturalmente (acho eu) que o Estado nunca o diria a uma pessoa, mas é exactamente nisso que resulta a continuidade da costumeira negligência no apoio social às famílias carenciadas, enquanto financia abortos, ou seja, o aborto é a grande solução que o Estado lhe fornece. No NÃO, achamos que uma mulher, que tenha engravidado sem o planear, não deve ver no aborto a única solução que a sociedade lhe reserva.
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