janeiro 18, 2007

A quem interessa ouvir?



Ainda estou para tentar compreender qual a intenção de certa comunicação social, quando insiste em colar a campanha do "NÃO" à Igreja, relevando e extrapolando certas e determinadas iniciativas individuais, que não se inserem em qualquer plataforma de cidadãos ou sequer cumprem com as instruções do pariarcado.

É recorrente a amostragem de iniciativas do grupos do "SIM", apresentando-se inlusivé discursos de ministros, a par de pequenos episódios e discursos isolados, protagnizados por sacerdotes da província, negligenciando-se as iniciativas ou os diversos contributos diários vindos dos muitos grupos de cidadãos pelo "NÃO".

Parece haver aqui uma clara intenção de se fabricar, sempre que possível, uma apologia do "discurso sereno e avisado" do "SIM", por oposição a uma postura "fundamentalista" e provinciana do "NÃO". Lembro o fraco destaque dado pelos diversos órgãos de comunicação à bem representativa e esclarecedora reunião de mais de 500 médicos e estudantes de medicina no passado dia 12, com vista à subscrição de uma declaração de princípios de apoio ao "NÃO" e que contou mesmo com a presença do bastonário da respectiva Ordem. (encontrar-se-ão dia 27 de Janeiro, às 20:00, em simultâneo em Lisboa, Porto, Braga, Aveiro, Viseu, Castelo Branco e outras cidades portuguesas).

Ora, desde um padre de Oliveira de Azeméis que distribuiu panfletos com “imagens chocantes”, ora um cónego de Castelo de Vide que vem ameaçar com a excomunhão, ora ainda uma tal "associação de leigos católicos" que se põe a distribuir panfletos contra o aborto, com a imagem de Nossa Senhora de Fátima... Para a nossa comunicação social, um padre que pregue, à sua maneira, no cu de Judas, é tão relevante quanto uma entrevista ao porta voz de um dos muitos grupos que representam, cada um, milhares de assinaturas de cidadãos anónimos.

Assim, gentilmente, se manipula a informação.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caro Joaquim,

Sou jornalista, e talvez por isso entenda bem aquilo de que fala. E concordo consigo. Haverá poucas coisas com estratégias e efeitos tão potencialmente perniciosos como a Comunicação Social. O espaço nos media compra-se e vende-se todos os dias. Ao partido, ao clube, seja desportivo seja social ou cultural, a um amigo a quem dá jeito publicar determinada notícia. A promiscuidade entre o sector da informação e outros é, a meu ver, inegável. E neste caso é bem visível esse aspecto. Não será a Comunicação Social que inventa o argumento, mas vai a reboque atrás de quem lança essas larachas parvas. Eu, e como eu milhares de pessoas, sou pelo «não» por uma questão prática de senso comum, e não me identifico com qualquer argumentação da Igreja. Nem sequer com a posição oficial do partido de que sou simpatizante. Há dias, num qualquer blog (porque são tantos os que visito diariamente), acusavam-me, obviamente a despropósito, de ser uma daquelas «tias» à moda de Cascais, beata e antiquada. Nada mais errado, e no entanto afirmaram-no como se me conhecessem de algum lado. Tiros completamente ao lado, disparados completamente no escuro. Com a questão da ligação entre religião e aborto acontece o mesmo. Haverá quem vote «não» por ser religioso, ou mesmo beato. Mas resumir os apoiantes do «não» a isso é castrador e idiota, e revela, uma vez mais, o baixo nível de argumentação do outro lado. Tenho pena.

sábado, 20 janeiro, 2007  
Blogger A minha verdade said...

Não sei se me entendeu bem. Não ponho em causa uma argumentação puramente religiosa para o voto no "NÃO". Quem entende, em consciência, que a Palavra de Cristo é suficiente para não haver qualquer outro tipo de discussão sobre este tema, fá-lo com a mesma exacta legitimidade de um médico obstetra. Creia-me.

O que aqui venho criticar, não é a motivação subjacente ao voto dos eleitores, que são livres, mas sim a aparente ordem de prioridades que a nossa comun.social vem dando, na auscultação do lado do "não".

Preterir a argumentação estudada e experiente dos representantes de movimentos de cidadãos, em benefício do livre discorrer de argumentos pessoais de padres na província...é manipulação.

Quem defender um dos lados, sabe perfeitamente que a publicitação dos discursos exagerados e surrealistas da oposição, é um factor privilegiado de desacreditação desta. Ora, o "SIM", presente em certos jornais e televisões, parece estar largamente à frente nessa campanha de bastidores.

sábado, 20 janeiro, 2007  

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