Longe da vista, longe do coração...
A drª Elisabeth Aubény, ginecologista e obstetra francesa, deu recentemente uma entrevista à “Visão” (nº721), onde nos conta a sua luta (e vitórias) em prol de uma contracepção alargada e do aborto livre, sendo mesmo a responsável pela introdução da “pílula do dia seguinte” em França. Actualmente reformada, palmilha o Mundo proferindo palestras sobre a sua ideia de aborto e contracepção.
Veio até Portugal a convite do grupo “Médicos Pela Escolha”, e, numa profusa entrevista de 3 páginas, fala das suas “conquistas” em França e do que poderemos nós “aprender” com o seu exemplo. De toda essa grande “lição” sobre o livre dispor da Vida, destaco esta parte:
Visão – Não há, portanto, mulheres a dar à luz e mulheres a fazer abortos lado a lado. (sobre a metodologia adoptada pelos hospitais franceses)
Aubény – É errado misturar. Provou-se que, em geral, as mulheres que pediam para abortar ficavam muito traumatizadas por verem bebés a nascer e que, para o próprio pessoal médico, a situação era difícil de gerir.
Bem se vê do pragmatismo desta gente. O objectivo é eliminar essa vida, por via de uma vontade demonstrada pela mulher. Logo, todo e qualquer factor que a possa demover ou fazer repensar essa opção, nomeadamente observando em primeira-mão aquilo de que estará a abdicar, tem de ser também eliminado. Não vá o diabo tecê-las!
Ora, quando se toma uma opção tão determinante e radical, não há lugar a dúvidas ou a traumas. A senhora que está ao lado tem o filho porque quer. Seja muito feliz com ele.
Agora, quando, por essa proximidade, se criam situações de dúvida (antes inexistentes), cabe aos médicos apurar dessa certeza e não avançar sem que haja plena consciência da mesma.
Não é que defenda que se devam fazer abortos junto de quem dá à luz. Na verdade, preocupar-me-ia muito mais o trauma que isso pudesse causar à parturiente. No entanto, o verdadeiro mal do aborto é justamente o desconhecimento que a mulher tem face ao processo (durante e depois) e face ao alvo do mesmo. Ela não sabe como acontece, ela não vê o que provoca, não vê o que rejeita.
À medicina cabe salvar vidas e garantir o normal funcionamento do corpo, não lhe cabe corrompe-lo ou garantir que uma decisão difícil (e tantas vezes equivocada) seja a única possível, até que se torne definitiva.
4 Comments:
Por que razão o NÂO assume uma postura paternal relativamente às mulheres? Porque acham que não são capazes de decidir sozinhas e em consciência, com responsabilidade? Porque falam das mulheres que abortam como se não gostassem de crianças? Muitas são mães e amam desmesuradamente os seus filhos!! E porque tentam passar a ideia de que não fazem aborto em forte sofrimento emocional? É obviamente uma decisão difícil e dolorosa para todas as mulheres! Na mesma entrevista, Aubeny diz que nenhuma mulher aparece para fazer um aborto sem ser a chorar! É óbvio que o melhor ambiente para fazer uma IVG não é no serviço de maternidade!!!! É portanto completamente desonesta a escolha do trecho da entrevista que aparece neste blog!!! Haja seriedade na discussão!!!!!
"Longe da vista, longe do coração"????
Porque é que o NÂO apela sempre ao sentimento?! Os argumentos para esta discussão só podem ser políticos, visto que o referendo não nos coloca uma questão moral sobre a IVG!
Este referendo questiona-nos sobre 2 assuntos, ambos de âmbito político: o da criminalização e o da saúde pública.
O Estado não nos pergunta se somos, pessoalmente, a favor ou contra o aborto!! Isto seria um absurdo!
Pergunta-nos se as mulheres que decidem abortar devem ser ou não julgadas e condenadas e se o devem fazer em boas ou más condições de saúde!
Estes são os temas de campanha, não se as mulheres devem abortar ou não, porque isso nunca ninguém controlará!
Ao 1º anónimo:
Caro amigo(a), ninguém está a assumir uma postura paternal em relação às mulheres. Trata-se de um postura jurídica face à tão desejada tendência para a igualdade entre sexos. Creio que uma mulher não deverá poder “decidir sozinha” da vida de um ser em gestação e que não é apenas produto do seu corpo. Desde o momento em que existe um progenitor que se mostre interessado na prossecução da gravidez, não deve ser dada a liberdade à mulher para que aborte por decisão unilateral. Bem sei que isto é polémico, mas não tem de o ser. Pondo de lado pruridos feministas, isto é bem fácil de entender.
Quanto às mulheres que abortam… não se diz que “não gostem de crianças”, nem sequer é isso que está em causa. Não entendo o seu desabafo. Simplesmente, esse sofrimento com que ALGUMAS se expõem ao aborto (sublinho “algumas”) pode e deve ser suprido com auxílio, com apoios vários, e é nesses que se deverá investir, não na solução mais fácil (acredite que é mais fácil abortar, ainda que com trauma, do que criar um ser com sacrifícios). Acredita mesmo que uma mulher que opte por abortar porque se quer dedicar à carreira (para alegadamente vir a ter “melhores condições” para dar a uma futura gravidez desejada) o fará com sofrimento?!? Não acredito! Excluo por completo essa hipótese. Ora, o Estado não tem que aparar as prioridades e conveniências de qualquer uma. Não tenha dúvidas que esta Lei servirá essencialmente este tipo de motivações.
Há sondagens que o demonstram aliás (feitas por gente do SIM).
Como referi, não desejo que os abortos se façam junto dos partos, apenas critico o alvo da preocupação destes médicos franceses. Face a este tipo de reacção por parte das requerentes, dever-se-ia antes colher a interpretação de que haverá provavelmente uma dúvida nas pacientes, uma vontade de prosseguir com a gravidez, reprimida por factores que, esses sim, deverão ser compreendidos e contrariados. Ao invés disso (e claro, muito mais simples) estes médicos optam por separar as águas, evitando o “risco” de dúvidas de última hora, dúvidas às quais dão o nome de “sofrimento” e as quais eu apelidaria de “esperança”. É simples.
Não vejo, pois, onde está a “desonestidade” na escolha do trecho. Foi escolhido para mencionar uma ideia que é a que está explicitada na entrevista.
Ao 2º anónimo:
Tendo em conta que o SIM passa o tempo a falar da “humilhação” das mulheres que vão a julgamento (escassas, por abortos feitos muito para além das 10 semanas e sem pena efectiva atribuída!), não vejo em que é que o NÃO deva prosseguir de maneira diferente. Em todo o caso, o título que escolhi é apenas uma figuração do conteúdo do excerto da entrevista da senhora. Quando se diz que se deve separar uma mulher que quer abortar de outra que está para dar à luz, sob pena da primeira sofrer com a sua escolha…eu diria que o ditado se encaixa na perfeição, não vá a “vista” influenciar o “coração” e embargar a operação.
É que estes “médicos” preferem partir do princípio que a mulher vai decidida e convicta a abortar, cabendo-lhes apoia-la e “protege-la” de possíveis recaídas, do que interpretar este tipo de reacção como uma dúvida que tem de ser esclarecida, cabendo ao medico, aí sim, apelar à importância da Vida e demovê-la do acto se essa não for a sua real vontade. E isto sim, é deplorável. Trata-se de cultivar uma cultura de morte, contrária à missão da medicina.
E lá tinha de vir o argumento costumeiro de que o que se questiona é a despenalização e não o aborto em si. Não sei se isso é hipocrisia ou simples cegueira, perdoe-me a expressão…
Então, estando nós conscientes de que com a aprovação desta Lei, qualquer mulher, por si só, poderá eliminar uma vida partindo de toda e qualquer motivação que tenha… Isto não será por em causa o valor da Vida, da maternidade, da própria natalidade?!? Se estivesse em causa a abertura de novas excepções à Lei por razões psíquicas ou financeiras, ainda se poderia alegar uma eventual questão de “saúde pública”. Mas acontece que o que se pretende não é alargar as excepções à Lei, mas sim permitir que o aborto possa chegar ao ponto de constituir um simples e derradeiro contraceptivo, uma vez que é de acesso livre e arbitrário! Você não tem consciência disto?!?
Logo, não queiram reduzir isto ao plano meramente jurídico, como se isto fosse uma mera alteração de Lei, porque não é! Trata-se de um gravíssimo precedente que vai ao encontro da relativização do conceito de “inviolabilidade da Vida Humana”.
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